segunda-feira, 12 de setembro de 2016

A Filosofia Através dos Textos - Nietzsche (1844-1900)

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Nietzsche
(1844-1900)

Vida e Obras

Aos 15 de outubro de 1844, nasce Friedrich-Wilhelm Nietzsche, em Rocken, perto de Leipzig (Alemanha). Seu pai e seus avós pastores protestantes. Teve dois irmãos: Joseph e Elizabeth, a qual muito o ajudou na difusão de suas ideias.  
Quando tinha 5 anos (1849), faleceu seu pai e seu irmão. Sua mãe resolve, então, partir para Naumburg, pequena cidade onde ele cresce e inicia seus estudos, caracterizando-se pela sua calma e docilidade. Funda com seus pequenos colegas uma sociedade literária e artística, onde escreve seus primeiros versos e também melodias. 
Com 13 anos de idade (1857), ingressa, como pensionista, na célebre escola de Pforta, onde estuda Grego e Latim, e onde são mestres Fichte (filho), Schlegel e Rank. A música constitui sua paixão, como testemunha a correspondência mantida com sua irmã. 
Não continua a tradição familiar, nem segue os desejos da mãe, de se tornar pastor. Entra na Universidade de Bonn, interessando-se pela Filosofia e seguindo seu mestre, o filólogo Ritschi de Bonn para Leipzig. 
Por acaso lê O Mundo Como Representação e Como Vontade de Schopenhauer, que o enche de entusiasmo, de forma semelhante a como, na música, o entusiasmava Richard Wagner. Sua tese de filosofia Os Esquemas Fundamentais da representação é rejeitada pela faculdade.  
Quando a Universidade de Basileia (Suíça) procurava um professor de filosofia, Ritchl consegue para Nietzsche o título de doutor, sem defesa de tese, e o recomenda dizendo: "É um gênio". Assim, aos 24 anos de idade (1868), toma posse da cátedra, onde permanece até os 34 anos de idade (1878). 
Em 1870, na guerra contra a França, alista-se como enfermeiro voluntário no exército alemão, pois era suíço por naturalização. Dois anos depois, publica o Nascimento da Tragédia.  
Dos 35 aos 44 anos de idade (1879-1888), escreve e publica a maior parte das suas obras: Pensamentos e Sentenças (1879); O Viajante e Sua Sombra e Aurora (1880); O Eterno Retorno, 1ª parte de O Gay Saber (1883); Assim Falava Zaratustra, livros I-III (1884); Para além do Bem e do Mal, 5º livro de O Gay Saber, e A Genealogia da Moral (1886); etc.. Ecce Homo, Ditirambos Dionisíacos e A Vontade Como Poder só aparecem após sua morte.  
Aos 25 de outubro de 1900, com apenas 46 anos de idade, morre em Weimar, numa casa transformada depois pela sua irmã em museu das obras de Nietzsche. 

Pensamento 
Não é fácil resumir o pensamento filosófico de Nietzsche, que ocorre solto nos espaços livres em que como poeta se exprime.
Nele encontramos inspiração os "valoristas" éticos, o "existencialistas" da angústia, da irracionalidade e do absurdo, e os "super-humanistas" ateus e racistas, entre outros.  
Sua visão filosófica geral poder-se-ia resumir na ideia do "eterno retorno" e sua concepção antropológica na ideia de "super-homem", com as decorrências da negação de Deus e do próprio homem, até as mais chocantes contradições. 
Perspicácia e profundidade caracterizam suas análises do homem e dos seus problemas transcendentais. Junto com isso, porém, há uma dose respeitável de subjetivismo e até de desvario. Não sem fundamento foi definida por alguém como uma "filosofia da loucura".  
Avaliação que seria errado tomar no sentido de negar-lhe qualquer valor ou mesmo de diminuí-lo indiscriminadamente.  

Textos  
O Eterno Retorno 
I. Exposição e fundamentação da doutrina 
1. A quantidade de força que opera no universo é determinada, não "infinita". Acautelemo-nos contra tais excessos minada, não "infinita". Acautelemo-nos contra tais excessos conceituais! Por conseguinte, o número das posições, variações, combinações e desenvolvimentos desta força é, certamente, enorme e praticamente "incalculável", sempre porém determinado e jamais infinito. O tempo, entretanto, no qual esta força se desenvolve é infinito, isto é, esta força é eternamente a mesma e eternamente ativa; até o momento presente, um infinito tem transcorrido, isto é, verificaram-se já todos os possíveis desenvolvimentos dessa força. 
Logo também todos os desenvolvimentos momentâneos devem ser repetições; assim, pois, tanto o que dela nasce, como o que ela produz, sucessivamente, para frente para trás. Tudo já foi infinito número de vezes, no conjunto de todas as forças reproduzindo suas evoluções. 
Ora, deixando isso de lado, é impossível determinar se alguma coisa idêntica tem-se reproduzido. Parece ser que, o conjunto das forças, até nas coisas mínimas produz sempre novas qualidades, de forma que não é possível que existam duas combinações de forças exatamente iguais. 
Poderia haver em um sistema de forças duas coisas iguais, como por exemplo, duas folhas? Duvido: seria necessário supor que tinham uma origem idêntica e, ao mesmo tempo, teríamos de supor que desde toda a eternidade teria existido algo idêntico, apesar de todas as variações do conjunto e da criação de novas qualidades; hipótese inadmissível. (O Eterno Retorno).

Do Super-Homem 
1. Quando estive pela primeira vez entre os homens cometi a loucura do solitário, a grande loucura: atirei-me à praça pública. 
E como falasse para todos, não falava para ninguém. A noite meus companheiros eram os funâmbulos e os cadáveres, sendo eu mesmo quase um cadáver. 
No dia seguinte, porém, uma verdade nova veio ao meu encontro: soube dizer então; Que interessa a praça pública, nem a plebe, nem o barulho da plebe, nem as compridas orelhas da plebe! 
Super-homens, aprendei isto de mim: nos logradouros públicos ninguém acredita em super-homem. Se quiserdes falar nas praças, seja. A plebe, porém, pisca o olho e diz: "Todos somos iguais". 
"Super-homens! - assim pisca olho a plebe - não há super-homens: todos somo iguais, um homem vale quanto outro: perante Deus todos somos iguais."
Perante Deus! mas Deus já morreu. Perante a plebe não queremos ser iguais. Super-homens, fugi da praça pública! 
2. Perante Deus! mas Deus já morreu! Super-homens, esse Deus tem sido vosso maior perigo.  
Não ressuscitastes até que ele baixou para a sepultura. Agora só volta o grande Meio-dia, agora o super-homem é o senhor.  
Compreendestes esta frase, emus irmãos? Atemoriza-os? Vosso coração sofre vertigens? Abre-se aqui o abismo para vós? O cão infernal rosna contra vós? 
Ótimo! Adiante, super-homens! É a hora da montanha do porvir humano dar a luz. Deus morreu: agora queremos "nós" que viva o super-homem. 
3. Os mais matutadores perguntam-se hoje: "Como é que o homem se mantém?" Zaratustra, entretanto, pergunta, de maneira original e única: "Como é que será "superado" o homem?" 
Preocupa-me o super-homem, é para mim uma ideia fixa, e "não" o homem, nem o próximo, nem o pobre, nem o aflito, nem o melhor. (Assim Falou Zaratustra, IV Parte, no meio). 
705. Do valor do devir. Se o movimento do mundo tivesse um alvo, este deveria ser atingido. mas o único fato fundamental é este; tal movimento não tem qualquer alvo, e toda filosofia ou hipótese científica (por exemplo o mecanismo), na qual um alvo torna-se necessário, é repelida por esse fato fundamental. 
Procuro uma concepção do mundo que esteja de acordo com esse fato. O devir deve ser explicado sem recurso a tais alvos finais: o devir deve aparecer como justificado a qualquer momento (ou então deve conclusão); não podemos de maneira nenhuma justificar com um porvir, nem o passado com o presente. 
A "necessidade" não tem o aspecto de uma força avassaladora, dominante, ou de um primeiro motor; ainda menos deve ser entendida como algo capaz de condicionar necessariamente algo de valor. É indispensável negar uma consciência compreensiva do devir, um "Deus", para não colocar tudo sob o ponto de vista de um ser que tem em comum conosco sentimentos e sabedoria, mas que não quer nada com nada: "Deus" é inútil, nada querendo. 
Por outro lado, admitindo Deus admitimos um máximo de desgosto e de ilogismo, que rebaixa o valor compreensivo do "devir"; ...não deve ser aumentado nenhum ser, em geral, pois, isto admitido, o devir perde seu valor, apresentando-se como carecido de sentido e supérfluo. 
Temos de nos perguntar: como pode ter surgido a ilusão de ser? E também: como se desvalorizaram todos os juízos de valor que se apoiam em hipóteses do ser? (A Vontade Como Poder, L. III, no fim).