VIVEKACHUDAMANI - O Diadema da Sabedoria


Atribuída a Shânkara Acharya

Sankara surge como uma das maiores figuras na história do espírito indiano 686 anos antes de Cristo. Numa época de crenças conflitantes e de confusão nos ensinamentos religiosos, como uma espécie de gigante encarregado da tarefa de reformar as tradições espirituais, deixando atrás de si uma impressão indelével que nunca foi suprimida nos ensinamentos religiosos, como uma espécie de gigante encarregado da tarefa de reformar as tradições espirituais, deixando atrás de sí uma impressão que nunca foi suprimida nos ensinamentos subsequentes da Vedanta.

Conforme diz o Prof. Radhakrishnam: "Na opinião de Sankara, só a filosofia Advaita (não dualismo) poderia fazer justiça à verdade das crenças em conflito. Escreveu, assim, todas as suas palavras e obras com o único propósito de ajudar o indivíduo a realizar a identificação de sua alma com Brahman, que é o meio de libertação de samsara (ilusão)... A vida de Sankara provoca uma forte impressão dos contrários. Ele é um filósofo e um poeta , um sábio e um santo, um místico e um reformador religioso. Tem havido poucas mentes mais universais do que a dele... A filosofia apresentada por Samkara possui uma longa história, que ainda está progredindo."

Atualmente num mundo de tantas confusões diferentes, existe um interesse crescente nas tradições não-dualistas do Oriente, sejam Hindus ou Budistas. Elas estabelecem um valor fundamental que está em harmonia com os conceitos modernos do ser psicológico e com a busca que está sendo feita, em todo o mundo, pelos verdadeiros pensadores, no sentido de ser encontrado um fator comum que esteja por trás de suas diferenças e em contradição com as influências desintegradoras que estão afetando os aspectos externos nas vidas de todos nós, em crescente progressão.




Apresentação 

Traduzido literalmente, o título desta obra é "O Diadema do Discernimento". Viveka é a separação do trigo, da palha que o envolve, o discernimento da realidade espiritual, velada pela miragem das aparências mundanas.
     A obra é atribuída a Shânkara Acharya, o maior dos mestres indianos, depois de Buda, e que, como este, viu e conheceu o universo face a face, ensinando, em essência, a mesma sabedoria, razão por que diziam os seus inimigos que ele era um Buda disfarçado. Durante séculos "O Diadema" tem sido aceito pelos discípulos e seguidores de Shânkara, como contendo a mensagem autêntica do grande Mestre da sabedoria.
Que tinha em mente o Mestre indiano ao transmitir a sua mensagem? A resposta é clara: "O Diadema" foi escrito para aqueles que buscam a libertação.
Libertação de que? Libertação da tirania do eu; da escravidão do mal e do obscurantismo, impostos pela tirania do eu; dos angustiosos pensamentos de preocupação consigo mesmo, que empanam a beleza da vida, o mistério dos divinos fragmentos entre os quais foi lançada a nossa própria vida, fragmentos temporariamente separados da Alma universal; libertação das nuvens tempestuosas formadas pelo pecado da auto centralização, que esconde a augusta santidade do Espírito.
O Mestre entrega a sua mensagem para aqueles cujos corações se abrasam na ânsia da libertação.
Só tirarão proveito de sua mensagem aqueles que tiverem atingido um certo grau de sabedoria e poder. Em primeiro lugar, deverão eles ter chegado, através da luta provocada pelas tensões e tempestades da vida, à convicção de que a realidade espiritual, somente ela, é duradoura e eterna; de que tudo o mais é fugaz como um sonho, que passa como a sombra de uma nuvem. 
Não é suficiente ter se chegado à trágica certeza de que todas as coisas desta vida estão sujeitas a mudança; de que os encontros terminam com as despedidas; de que nossa vida terrena é como uma casa construída na areia. Isso é uma parte, mas somente a parte menor e negativa. Deverá haver, além disso, um esplêndido otimismo, positivo, afirmativo; a convicção de que há uma realidade espiritual atrás do véu das coisas impermanentes; uma convicção profundamente arraigada em nossos corações, apesar das evidências que nos possam apresentar as aparências; a convicção pela qual possa o pesquisador sacrificar-se com regozijo, se necessário, porque sabe que essa suprema realidade nenhum dano poderá sofrer.
Essa firme certeza da realidade espiritual é mais do que uma opinião intelectual. Ela deverá estar arraigada no coração e na vontade; deverá crescer através da devoção; deverá ter, como consequência, uma vida virtuosa. Essa é a segunda qualificação. A prova de sua existência será um genuíno desprendimento, uma positiva mudança de rumo, uma reação violenta contra o egoísmo, quer este se expresse no apetite grosseiro pelo sucesso material e pela vaidade bajulada, quer num desejo mais sutil e mais insidioso de recompensas semelhantes no mundo invisível, depois da morte. O que deve ser rejeitado não é a qualidade da recompensa, mas a procura de qualquer recompensa para si mesmo. 
Isso é que deve ser destruído. Poderá aquele que repudia o eu e sua tirania desejar qualquer recompensa?
Seta rejeição do eu e de todas as suas obras surgirão seis graças, as quais, juntas, formam a terceira qualificação. 
A primeira é a paz: paz do sofrimento causado pelos desejos veementes; da doentia obsessão do medo pela sua própria sorte; do tormento de uma vaidade que, exigindo acatamento universal, num mundo de vaidades que rivalizam, jamais poderá ser satisfeita; paz da febre do desejo; paz do sentimento de saciedade, que sempre acompanha o desejo.
Na paz do coração que se desfez do eu surge a capacidade de dominar e usar corretamente todos os poderes de nossa natureza humana ricamente dotada, poderes que são grosseiramente desvirtuados pelo tirânico eu e suas maldosas exigências. Sob esse tirano dominador, como sob o domínio de qualquer governante maldoso e corrupto, cada poder se torna um pequeno tirano, a tal ponto que cada sentido se torna um causador de pecado. Quando o tirano for derrubado e expulso, surge, então na paz que disso resulta, a possibilidade de restaurar a ordem perturbada, trazendo-se cada poder de volta ao serviço e à obediência.
Resultará, então, o místico silêncio, o silêncio da natureza interna, no qual são silenciadas todas as discordâncias do desejo, a jactância da vaidade, as recriminações do amor próprio; e também o silêncio da natureza externa, a cessação de todas as lisonjas e concessões covardes; das servis atenções que nós tributamos aos poderes do mundo, em troca de seus dons e de seus sofrimentos; a cessação das vãs cerimônias motivadas pela vil esperança de obtermos recompensas para o nosso eu, no mundo invisível.
O coração que conquistou a paz, com o correto domínio de todos os seus poderes em quietude e silêncio, receberá, por isso mesmo, força, coragem e paciência; apoiado na firme base da realidade espiritual, ele se sentirá forte para todo sofrimento, suportando, sem fraquejar, todas as dores, porque, ao rejeitar o eu, despojou-se, também, da origem do medo e da dor. Onde não há egoísmo não pode haver medo do inferno, nem o desejo de interesseiras recompensas no céu. Quando o tirano for destronado, nenhum tributo mais lhe ofertaremos.
Num coração assim tranquilo, cheio de coragem e resistência, arderá a fé, não mais como uma tímida faísca prestes a extinguir-se mas como uma chama permanente, um raio da luz eterna que brilha além dos céus; uma firme fé de que há uma divina sabedoria e uma sublime compaixão, de que existem divinos mestres, perfeitos em amor e coragem, prontos a transmitir aquela sabedoria a todos aqueles que estiverem preparados para recebê-la.
Iluminados por essa fé, todos os poderes serão reunidos e dirigidos pera uma única felicidade, na verdadeira concentração na firme e inabalável determinação de atingir a realidade espiritual; no esforço inflexível para procurar, achar e obedecer os Mestres da sabedoria divina, cuja proximidade é sentida pelo coração, ainda que estejam ocultos à visão.
A inclinação convergente de toda a nossa natureza na direção dos portadores da divina Luz cresce e amadurece para a quarta qualificação: o fogo sempre crescente da aspiração que nada mais procura, que com nada mais se preocupa neste mundo, anelando por atingir e estrar no mundo divino, nele se perdendo. O que se exige é uma ardente determinação de todo o ser, uma indomada vontade de achar, amar e servir os poderes divinos, como a única coisa realmente digna de consideração em todo o universo; como a única coisa que dá sentido e valor ao universo.  
Apesar de que os passos do aspirante tenham sido guiados, desde o começo pelo Mestre que, na ordem divina, esteja acima dele no mundo espiritual, não é menos verdade que o discípulo deve adquirir as qualificações pelo seu próprio esforço. Sua única convicção deverá ser a da suprema realidade e valor do mundo espiritual. Ele deve ter aprendido a permanecer em equilíbrio no meio das forças conflituosas do mundo.
Deve ter purificado seu coração da escória do egoísmo e da sensualidade.
O esforço firme e continuado do discípulo para atingir isso trará, na proporção do êxito que obtiver, modificações na textura e na qualidade de sua natureza interna, em virtude das quais a força da atração espiritual o aproximará mais de seu Mestre.
A tarefa do discípulo será, então, tornar-se uno com seu Mestre coração, pensamento e vontade; uno em esforço e aspiração; uno no altruísmo e no serviço do Eterno.
Deverá o discípulo penetrar passo a passo na sabedoria, poder e amor do seu Mestre, numa íntima fusão de consciência. Isso poderá ser atingido somente pela absoluta entrega da vontade do discípulo á obra do Mestre. Em seu coração o discípulo dirá: "que seja feita a Sua vontade e não a minha".
Sob a direção do Mestre, em íntima união com sua consciência e sua vontade, pôr-se-á, então, o discípulo a estudar e investigar sua própria natureza, a natureza humana em suas múltiplas formas, bem como as leis da vida e do mundo em que ele desenvolve sua atividade.
Em primeiro lugar, deverá ele estudar e compreender sua própria e complexa natureza; não somente o que foi e o que é, mas o que se destina a ser, quando realizar sua divindade.
No "Diadema" são apresentados dois ensinamentos paralelos, revelados à natureza humana e tomados dos dois grandes Upanishads (pequenos tratados filosóficos hindus, que se incluem no número dos textos que constituem a "Shruti" ou revelação divina. Procuram Interpretar a doutrina esotérica dos Vedas e seu número sobe a mais de 100).
Primeiramente nos é exposta a divisão em quatro corpos, tirada do Mandukya Upanishad, a saber:

1º - O corpo físico, com a consciência e os poderes do nível comum da humanidade;

2º - O corpo sutil, destinado a manifestar a consciência e os poderes do discípulo;

3º - O corpo causal, com a consciência e os poderes do adepto;

4º - O divino ser do Espírito luminoso, o Buda, em que o adepto se torna uno com o Eterno.

No "Diadema" o corpo físico é tratado de maneira mais ou menos extensa, com as ilusões e fascinações que podem iludir o discípulo, através desse corpo, e que devem, em primeiro lugar, ser dominadas e compreendidas.
Maior atenção ainda é dada ao corpo sutil, muitíssimo importante, por ser o campo de batalha do discípulo.
Na história da vida do corpo sutil há duas fases principais. Na primeira, ele é assediado por ilusões e desvirtuado pelos desejos, que giram em torno das idéias de "Eu" e "meu", a natureza psíquica autocentrada que é o envoltório do pecado e do erro.
À medida que o discípulo vai dominando os pecados e deformações da natureza psíquica inferior, num esforço ardente e incessante de harmonizar sua vontade e sua consciência à vontade e consciência de seu Mestre, a princípio percebida de maneira vaga e imprecisa e depois de maneira mais precisa e definida, com o contínuo esforço do discípulo, nessa mesma medida vai o corpo sutil adaptando-se e transformando-se; e ser que, até então, tinha sido surdo e cego, assediado por ilusões, começa a ouvir com os ouvidos espirituais, a sentir que o Mestre está bem junto a ele, e a esforçar-se para chegar a ele com um amor sempre crescente. O Eu superior torna-se luminoso, com o envoltório da substância da meditação. O discípulo conquistou a companhia de seu Mestre.
Pouca coisa é dita sobre o corpo causal, o corpo do adepto, sobre sua consciência e poderes.
A essência de todos eles se expressa numa grande capacidade de servir, numa mais profunda sabedoria de discernimento, numa maior capacidade de trabalhar para a realização do Divino na humanidade. Outros ensinamentos atribuídos a Shânkara nos dizem que esse invólucro é a causa e a substância subjacente dos corpos sutil e físico, aquilo que persiste através dos ciclos dos nascimentos e mortes; aquilo que impele ao renascimento os dois corpos exteriores, guiando-os na coleta de experiências; aquele no qual é recolhida a experiência adquirida, que nele é guardada como um tesouro permanente. Em suma, é ele o poder que, iluminado pelo Espírito, guarda e guia, através da vida, da morte e dos renascimentos, a evolução espiritual em seu perene ciclo.
Esses são os degraus, as fases da ascensão para o Espírito, que é uno e Espírito universal e, ao mesmo tempo, individual, a essência magnífica do Mestre glorificado. Essa é a consumação, o atingimento da meta.
Segue-se a classificação paralela dos cinco envoltórios, tirada do Taittiriya Upanishad. Ela nenhuma dificuldade nos apresentará, se levarmos em conta que os dois primeiros, o envoltório formado pelo alimento e o formado pelo alento vital, constituem, em conjunto, o corpo físico; o envoltório constituído pela mente (sentimento e pensamento) é o corpo sutil, antes de sua transformação, ao passo que o envoltório formado de inteligência é o corpo sutil no estado superior, purificado e iluminado pela luz interna, ante a presença do Mestre. O envoltório formado de beatitude é o corpo causal, o veículo do poder e da consciência do Adepto.
Acima dos cinco envoltórios, como acima dos três corpos, está o Espírito divino, o Eu supremo; o raio eterno e co-eterno, individual e, contudo, uno com a Divindade.
Ao tratarmos desta segunda descrição da nossa natureza complexa, dedicamos, como acima, maior atenção ao envoltório constituído pela mente, no qual o discípulo trava a sua maior batalha e cuja transformação em envoltório da inteligência constitui a sua meta imediata.
Porque a mente é, ao mesmo tempo, a causa de sua escravidão e de sua libertação; quando obscurecida pelas forças da paixão ela nos escraviza, mas nos liberta quando purificada das paixões e do obscurantismo.
Ou, em outras palavras, a mente inferior, inflamada pelo desejo e amortecida pela indolência, é a causa da escravidão, do pecado e da dor, ao passo que a mente superior, iluminada pelo Espírito, nos oferece a ponte para a libertação.
A transformação da mente, a sua libertação das cadeias da indolência e da paixão, a sua progressiva iluminação pela luz do Espírito constitui a tarefa que se apresenta em seguida ao discípulo, sendo, por isso mesmo, o tema central de "O Diadema".
O Mestre, com palavras eleqüentes e sábias e com ilustrações práticas tiradas da experiência de todos os dias, revela as discípulo todos os segredos do eu complexo e separado, mostrando-lhe, além disso, os degraus que ele deve trilhar para elevar-se até o  Eu onde não exite a separatividade.
Em verdade, o Mestre guia o discípulo à meta da primeira iniciação, que abre para ele a árdua senda do adeptado. Daí por diante o discípulo descobre, e deve fielmente segui-lo, o antigo e estreito caminho que se extende ante suas vistas, a senda que trilham os videntes na sua meta para a divindade.





A JÓIA SUPREMA DA SABEDORIA


INVOCAÇÃO

Presto a minha reverência Àquele que é o fim de toda a sabedoria, a meta de toda realização, o Senhor invisível do rebanho, a suprema benção, o bom Mestre.
Para os seres humanos difícil é nascer e depois, atingir a virilidade e a santidade; mais difícil ainda é a perfeição no caminho da lei da sabedoria; mas o mais difícil de obter é a iluminação.
O Discernimento entre o Eu Divino e o que não é o Eu, a realização da união plena com o Eu eterno a libertação - isso não se pode atingir sem a santidade aperfeiçoada através de um milhão de vidas.
A qualidade humana, o desejo de libertação, o acercamento aos Mestres, essas três coisas difíceis de conquistar, nos são dadas somente pela graça divina.
Tendo chegado a obter, por fim, a forma humana, difícil de subjugar, bem como a qualidade humana e a compreensão dos ensinamentos revelados, aquele que não se esforça pela libertação no Eu Divino mata-se a si mesmo, procurando apegar-se ao irreal, num processo de autodestruição.
Quem é, então, a própria essência da loucura, senão aquele que, iludido, corre atrás de finalidades egoísticas, depois de ter obtido a forma e a qualidade humana, difíceis de subjugar?
Ainda que recitem as escrituras, sacrifiquem aos deuses, executem todos os trabalhos, adorem as divindades, não poderão atingir a libertação nem em centenas de anos, se não despertarem para a unidade do Eu Divino.
Dizem as escrituras que não existe esperança de imortalidade através das riquezas, portanto é claro que as obras rituais não são a causa da libertação.
Esforce-se, portanto, ó homem sábio por obter a libertação através da renúncia ao engodo de felicidade, que oferecem as coisas exteriores. Que ele se aproxime do bom e grande Mestre, empregando toda a sua alma no seguimento dos ensinamentos do Mestre.
Que, através do Eu Divino, ele eleve o seu eu individual mergulhado no oceano da sucessão de vidas e mortes, procurando a unificação com uma firme visão do UNO.
Tendo aprendido o ensinamento que o impele para o Eu Divino, esforce-se o sábio pela renúncia de todas as obras, procurando libertar-se, com essa renúncia, da escravidão do mundo.
- As obras causam a purificação do coração, mas não levam ao atingimento do Real; este é obtido pelo discernimento e não pelas obras, por mais numerosas que elas sejam.
Pelo discernimento do Real começa-se a perceber que a serpente imaginária é apenas uma corda; e assim é destruído o medo da grande serpente, criada pelo encantamento da ilusão.
O conhecimento certo da meta chega através do discernimento despertado pelo ensinamento correto, não através de abduções ou dádivas, ou milhares de retenções de respiração.
 A obtenção do fruto é a recompensa daquele que possui as devidas qualificações; as circunstâncias, tais como lugar e tempo, apenas cooperam para o resultado.
Portanto, que aquele que quiser conhecer o Real pratique o discernimento, achando um Mestre que seja um rio de compaixão, um excelente conhecedor do Eterno.
- Aquele que for cheio de inteligência, iluminação, hábil no conhecimento e na sabedoria, esse está apto a ensinar a sabedoria do Eu Divino, pois ele traz a marca imemorial do Divino.
Aquele que tem discernimento, que se libertou do egoísmo, que conquistou a tranqüilidade e outras virtudes, num ardente desejo de libertação, esse está capacitado para procurar o Eterno.
Em seguida se enumeram quatro qualificações satisfeitas por aqueles que possuem a sabedoria. Quando elas estão presentes existe uma sólida base no Real, quando elas estão ausentes é o fracasso.



AS QUATRO QUALIFICAÇÕES  

Em primeiro lugar se enumera o Discernimento entre o Eterno e o não-eterno. Vem depois a libertação da auto-indulgência nos frutos da ação. Em seguida, as seis virtudes, a começar pela quietude e, por último, o desejo ardente de libertação.
O Divino Eterno é real, o mundo é ilusão. Uma completa certeza dessa verdade é o que se chama Discernimento entre o Eterno e o não-eterno.
A libertação da auto-indulgência é a renúncia aos atrativos dos olhos, dos ouvidos e de todos os sentidos; a renúncia aos atrativos de todas as coisas não eternas, desde o corpo até o Poder Formador, e continuamente feita através da compreensão da inanidade de todas as coisas objetivas.
QUIETUDE é a fixação da mente e do coração na meta a atingir.
CONTROLE é o domínio dos poderes de percepção e ação, detendo-os no seu curso fugidio.
A excelente CESSAÇÃO consiste em recusar apoiar-se nas coisas exteriores.
A RESISTÊNCIA é a capacidade de suportar todas as dores, sem rebelar-se contra elas, lamentações e preocupações.
A FÉ é a firme convicção de serem verdadeiros o ensinamento e a palavra do Mestre. Por esta fé o justo diz que o Real foi conquistado.
A CONCENTRAÇÃO é a permanência contínua da alma no puro Eterno, sem alimentar imaginações.
O ardente DESEJO DE LIBERTAÇÃO é o desejo de libertar-nos de todas as cadeias forjadas pela ignorância, começando pelo eu pessoal e terminando com o corpo, através do discernimento da natureza real do Eu Divino.
Quando esse desejo estiver presente, reforçado pela cessação da auto-indulgência, pela quietude e as outras virtudes, e igualmente pela graça do Mestre, então surgirão os resultados.
Naquele que conquistou a auto-indulgência e no qual o desejo de libertação é cheio de entusiamo, nele florescem a quietude e as outras virtudes, atingindo a meta.
Quando a auto-indulgência não foi dominada e o desejo de libertação é fraco, então a quietude e as outras virtudes são uma ilusão, como a miragem no deserto.
Entre todos os meios de libertação, a devoção é, em verdade, o mais poderoso.
Afirma-se ser devoção o fixar-se o coração no verdadeiro ser do Divino Eu.
Outros dizem que a devoção consiste em fixar-se o coração no Eu real de cada um.
Aquele que conquistou as qualificações acima descritas está apto para discernir o verdadeiro ser do Eu.


PROCURANDO O MESTRE

Que ele se aproxime de um Mestre que conquistou a sabedoria e do qual possa ser aprendida a libertação da escravidão; que conheça os sagrados ensinamentos, que seja perfeita pureza, que não seja movido pelo desejo e que seja sábio na sabedoria do Eterno.
De um mestre que tenha entrado na paz do Eterno, conquistando-a como a chama quando se consome o combustível; que seja um oceano de compaixão que não procure retribuição, e amigo de todos os que pedem auxílio.
Aproximando-se do Mestre com reverente devoção, com a amorosa disposição daquele que procura o Eterno, conquiste o discípulo sua boa vontade e pergunte-lhe o que deseja saber com ralação ao Eu verdadeiro.
Reverência a ti, Mestre, amigo do mundo oprimido, oceano de compaixão; salva-me a mim, afundado no mar da vida; dirige para mim o teu olhar firme, do qual se irradia retitude e compaixão.
Porque estou sendo queimado pelo fogo ardente da vida passional, difícil de extinguir, sou impelido para lá e para cá pelo destino adverso e encontro-me cheio de medo. Venho a ti em busca de refúgio; salva-me da morte porque nenhuma salvação conheço.
Os poderosos seres que atingiram a paz vivem na retidão trazendo vida ao mundo como a primavera que se aproxima; eles, que, a seu tempo, atravessaram o terrível mar da vida passional, auxiliam os outros a transpô-lo, com uma compaixão que não pede retribuição.
É da essência desses seres de alma poderosa esforçar-se por curar as tristezas alheias, como a lua de raios nacarados refresca a terra abrasada pelo fogo terrível do sol.
Derrama sobre mim as tuas palavras de vida imortal, que trazem a felicidade dos ensinamentos sagrados, à proporção que saem do vaso de tua voz clara, estimulante, purificadora, inspirada por tua própria experiência na essência gozosa do Eterno. Mestre, estou sendo vida passional! Felizes aqueles sobre os quais descansa, mesmo por um momento, o teu bondoso olhar: tornaram-se eles, por isso mesmo, aceitos e passam a pertencer a ti.
Como poderei eu atravessar este oceano da vida passional?
Que caminho há para mim? Qual o meio de salvação? Não conheço nenhum, Abriga-me, Mestre, na tua compaixão. Salva-me da dor e da destruição desta vida assediada pela morte.



A RESPOSTA DO MESTRE

A poderosa alma, ao ouvir, com os olhos úmidos de compaixão, o apelo que lhe faz o discípulo, abrasado pelo calor ardente do fogo desta vida assediada pela morte, imediatamente livra-o do meio.
Pleno de sabedoria começa o Mestre, compassivamente, a ensinar a verdade ao discípulo, que veio a ele em reverente atitude e em busca de liberação; que conquistou as qualificações exigidas e cujo coração ganhou tranquilidade e atingiu a quietude.
Não temas, ó homem prudente! Não estás em perigo; existe uma maneira de atravessar o oceano desta vida assediada pela morte, um caminho pelo qual os santos atingiram a outra margem. Esse caminho eu o revelarei a ti.
Há um caminho de poder, que destrói o terror desta vida assediada pela morte; percorrendo-o, através do vasto mar deste mundo, conquistarás a alegria suprema. Pela correta, compreensão da essência dos ensinamentos da sabedoria, surge a iluminação que destrói a incomensurável dos da vida assediada pela morte.
Os ensinamentos sagrados afirmam claramente que os meios de liberação, para aquele que a procura, são a fé, devotado amor, meditação e união. Aquele que permanece firme nessas virtudes obtém a liberação dos grilhões do corpo, forjados pela ignorância.
Esta vida, assediada pela morte, é fruto da escravização àquilo que não é o teu Eu verdadeiro, porque não conheces a tua identidade pelo correto discernimento entre o Eu verdadeiro e o falso, destruirá as obras da ignorância, desde a raiz até os ramos.



O DISCÍPULO FALA

Mestre, ouve-me em tua compaixão! Como se origina? Em que se apóia? Como nos libertamos dela? O que é que não é o Eu verdadeiro? O que é o discernimento entre o verdadeiro e o falso? Que isso me seja esclarecido.



O MESTRE RESPONDE

Feliz és tu que atingiste a tua meta. Através de ti, tua família será abençoada, porque liberto da ignorância, tu te tornarás uno com o Eterno.
Os filhos e parentes poderão livrar o homem de suas dívidas, mas ninguém senão o próprio homem pode libertar-se da escravidão.
A dor causada por uma carga pesada sobre a cabeça poderá ser aliviada pelos outros, mas o sofrimento causado pela fome e pela dor não pode ser removido por ninguém, a não ser pelo próprio homem que come e bebe.
Quando o doente usa adequadamente o remédio recupera a saúde, não pela ação correta de outras pessoas.
A verdadeira essência do real deve ser vista pelos nossos próprios olhos, iluminados pela sabedoria; não é suficiente que o Mestre a veja. A verdadeira forma da lua deve ser percebida pelos nossos próprios olhos e não através dos olhos de outras pessoas.
Como poderia alguém, a não ser nós mesmos, quebrar as correntes que nos unem à ignorância que deseja obter os frutos da ação?
A libertação é obtida não através da Yoga ou da Sankhya, ou qualquer outro meio, mas sim pelo percebimento da unidade do nosso Eu real com o Eterno.
A forma e a beleza do alaúde, assim como a habilidade em manejar suas cordas, poderão deliciar a multidão, mas não podem estabelecer o poder de um monarca.
Um belo discurso, uma catadupa de palavras, a habilidade em aprender e expor os textos sagrados poderão encantar os eruditos, mas não trazem a liberação.
Quando não se conhece a realidade, inútil é a leitura dos textos sagrados, mesmo que essa realidade seja conhecida apenas pela mente.
Uma rede de palavras é como uma densa floresta que leva a mente a sentir-se confusa; portanto, a realidade do Eu Divino deve ser procurada, com seriedade, junto a alguém que já tenha tido contato com o Real.
A não ser que seja curado pelo conhecimento do Real, aquele que for mordido pela serpente da ignorância nenhum proveito poderá tirar que dos Vedas e das escrituras, quer de ervas e encantamentos.
A doença desaparece quando tomamos o remédio adequado e não quando somente falamos a respeito dele; assim, também, a libertação não é obtida pela simples alusão ao Eterno, mas pela experiência imediata dele.
Sem dissolvermos em pensamento o mundo visível, sem conhecermos a realidade do Eu Divino, que espécie de liberação poderemos obter de meras palavras, cujo resultado são sons vazios?
Ninguém poderá tornar-se rei repetindo apenas as palavras "eu sou rei", sem que destrua o inimigo e conquiste as riquezas do reino.
Se quisermos desenterrar um tesouro, o faremos, não pronunciando a palavra "aparece", mas sim seguindo as instruções corretas, no remover as pedras e a terra que estão acima dele. Assim, também, a verdade límpida do Eu Divino, escondida pelo fascínio deste mundo, só poderá ser obtida pelo ensinamento daquele que conhece o Eterno, através do pensamento e meditação cuidadosos, e não através de um sutil raciocínio.
Assim sendo, deverão os homens prudentes esforçar-se para libertar-se da escravidão deste mundo assediado pela morte, como se esforçariam por tomar remédios para afastar a doença.
A importante pergunta que fizeste hoje, de acordo com os sagrados ensinamentos, deverá ser feita por todos aqueles que procuram a libertação.
Presta bastante atenção, ó homem prudente, ao que foi por mim declarado; ouvindo, ficarás, em verdade, liberto da escravidão do mundo onde és mortal.


OS MEIOS DE LIBERAÇÃO 

Afirma-se que a primeira causa da liberação é o completo desapego de todas as coisas que estão fora do Eterno; depois, a tranquilidade, o autodomínio e a paciência; em seguida vem a renúncia completa de todas as obras motivadas pelo desejo pessoal.
Segue-se o estudo das escrituras e a reflexão sobre o seu significado, com meditações contínuas e prolongadas sobre o Real. Então, libertando-se das cadeias do pensamento mal orientado, o homem sábio atinge, ainda neste mundo, a felicidade do Nirvana.
Vou, agora, expor-te diretamente em que consiste o discernimento entre o eu real e aquilo que não é o Eu, porque já o poderás compreender. Ouve e procura compreender no mais íntimo do teu ser.


O CORPO FÍSICO

Pelos sábios é assim chamado o corpo grosseiro, composto pelas substâncias chamadas medula, ossos, gordura, carne, sangue, pele e epiderme e que consiste no tronco, peito, braços, pés, costas, cabeça, membros e as subdivisões destes.
É conhecido como o centro da ilusão do "eu" e do "meu". Quando combinados uns com os outros, formam os elementos grosseiros de que se compõe o corpo; são eles a substância dos objetos percebidos pelos cinco sentidos, como o som e os outros. A sua finalidade é instruir a alma atrvés da experiência. Aqueles que, fascinados por esses objetos dos sentidos, se deixam enredar nos laços do desejo, difíceis de romper, esses sobem e descem, levados para todos os lados pelo seu próprio carma, tal qual um mensageiro impetuoso.
Todos os seres, veados, elefantes, traças, peixes, abelhas, etc., são fascinados através de um dos cinco sentidos. Como poderá, pois, o homem libertar-se do fascínio deles?
As coisas dos sentidos são mais pungentes na dor que causam, do que o veneno da serpente negra. O veneno, para matar, precisa penetrar no corpo, mas as coisas dos sentidos, para destruir, precisam apenas ser contempladas. A liberação é obtida somente por aquele que não se deixa enredar na trama dos desejos sensuais, difíceis de dominar, e não por qualquer outro, mesmo que seja conhecedor das seis escolas filosóficas (as seis Darçanas ou seitas em se divide o hinduísmo: Mimânsâ, Vedânta, Sânkhyâ, Yoga, Nyâyâ e Vaicesika).

Aqueles que, procurando a liberação num esforço para atingir a outra borda do oceano da vida passional, se julgam, erroneamente, desapegados, esses, dominados pelo jugo de seus próprios desejos, afundarão no meio do trajeto, arrastados e sufocados pela corrente.
Mas aquele que extirpa o jogo do desejo sensual com a afiada espada do verdadeiro discernimento, esse atinge, sem maiores obstáculos, a outra margem do oceano da vida passional.
A morte é o destino daquele que empreende, em tempo inoportuno, a travessia do rude caminho da vida sensual, tendo a mente obscurecida; mas aquele que inicia o caminho guiado por um Mestre reto e amoroso, esse, unindo-se ao seu verdadeiro Eu, obtém a sua meta e a sua recompensa. Saibas tu, ó discípulo, que isto é a verdade.
Se tiveres um ardente desejo de liberação, afasta de ti os desejos sensuais, como se fossem veneno; e cultiva, incessante e reverentemente, a compaixão, a paciência, a retidão, a tranquilidade e o autocontrole, como sendo a essência da imortalidade.
Aquele que se ocupa somente em alimentar o corpo, esquecido de que este existe para o benefício da alma, e que, negligenciando o dever de cada dia, não se esforça por libertar-se dos laços da ignorância, esse meta sua própria alma.
Aquele que deseja encontrar seu verdadeiro Eu, mas que se absorve na manutenção do corpo, esse procura atravessar o rio agarrado num crocodilo, pensando que é um tronco de árvore.
A fascinação pelo corpo e seus poderes constitui o maios perigo para quem procura a liberação. Somente aquele que estiver isento dessa fascinação será digno de percorrer o caminho da libertação.
Mata, pois, a atração do corpo, da mulher e dos filhos, esse grande perigo; vencendo-o, podem os santos atingir o centro da deidade onipresente.
Este corpo grosseiro, indigno de nos escravizar, é apenas um amontoado de pele, carne , sangue, músculos, gordura, medula e ossos, que um dia se desintegrarão.
Ele é uma mistura quíntupla de elementos combinados de acordo com o carma de vidas anteriores, e se destina a ser instrumento para a experiência da alma. O seu estado é o de consciência de vigília, que percebe os objetos grosseiros dos sentidos.
A vida pessoal, concentrando-se na consciência de vigília corporal, encontra deleite nos objetos exteriores, como grinaldas, sândalo, e mulheres, cujas impressões afetam os sentidos externos.
Esse corpo grosseiro, por meio do qual o espírito toma contato com a vida exterior, não passa, ó discípulo, de uma casa para seu verdadeiro dono.
Suas tendências inerentes são o nascimento, a decadência e a morte; seus períodos são as seis idades que começam com a infância; seu critério são as diferenças de raça e de condições de vida, com todas as suas aflições; ele recebe adoração, honra e desonra em todas as suas formas.
Os seus poderes de percepção são o ouvido, o tato, a vista, o olfato e o gosto, que lhe permitem tomar contato com os objetos dos sentidos; a voz, as mãos, os pés, os órgãos de excreção e reprodução constituem os instrumentos da ação, pelos quais ele exerce sua atividade.


O CORPO SUTIL

As suas faculdades internas são chamadas mente (manas), inteligência (buddhi), a consciência pessoal (ahankara) e a imaginação (chitta), com suas atividades. A função da mente é coligir e separar impulsos; a função da inteligência é formar juízos em relação ao que é percebido.
A função da consciência pessoal é o pensamento do "eu", e a da imaginação é manter a consciência firme em seu objeto.
O alento vital distribui-se no atento para a frente, para baixo e para cima, bem como no alento que une e no que se espalha por todos os lados; eles são modificados o ouro e a água.
Dizem que o corpo sutil é formado pelos oito grupos seguintes: a voz e os outros poderes de percepção; o alento para a frente e os outros alentos vitais; o éter e os outros elementos sutis; a inteligência e os outros poderes internos, e mais a ignorância, o desejo e o carma.
Ouve o que vou dizer com relação a esse corpo, chamado de sutil ou o corpo da forma, que é composto pelos cinco elementos não quintuplamente misturados: ele é o campo de experiência dos frutos do carma, através das impressões e das tendências; ele é o veículo do Eu real.
O sonho é o seu  estado distintivo, no qual ele cresce com substância de sua própria formação; quando nesse estado de consciência de sonho, ele obtém o poder de agir; e brilha a inteligência, alimentada pelas múltiplas impressões recebidas durante as horas de vigília.

Porque nesse estado torna-se luminoso o Eu superior, revestido da substância da meditação; ele é uma testemunha independente que não é maculada pelas ações separadas, do corpo físico.
Sendo independente, o corpo sutil não é maculado pelas ações de seus invólucros. Este corpo de forma executa todas as atividades como instrumento do Eu superior, o homem espiritual; ele é como um instrumento afiado nas mãos do carpinteiro. Portanto, o Eu é livre de qualquer apego.
As características da cegueira, da boa ou má visão, tem sua causa nas qualidades ou defeitos dos olhos; assim também a surdez e mudez são deficiências dos ouvidos e da língua, não do Vidente, do Eu.
expiração, inspiração, bocejo, espirro, o fluir da saliva, a circulação, tudo isso, dizem aqueles que sabem, é produzido pelos ares vitais, a fome e a sede são causadas pelo princípio vital.
O órgão interno atua através da vista e dos outros sentidos.
Através da personalidade o "eu" pessoal se estabelece e manifesta.
este eu pessoal deve ser compreendido como o ator e o acumulador de experiências; ele é a expressão da personalidade; unindo-se às três potências: bondade, paixão e obscuridade, ele experimenta os três estados de consciência.
Quando os objetos de sua experiência fluem a favor da corrente, a personalidade experimenta prazer; quando contrariam seus desejos, ela sente dor. O prazer e a dor são características da personalidade, não do Eu verdadeiro, que é existência e bem-aventurança.
o objeto da experiência é precioso de tudo o que existe.
Portanto, o Eu é existência e bem-aventurança, inatingível pela dor. Essa beatitude do Eu que é experimentada no estado sem sonhos, acima da vida objetiva, é sentida, na consciência de vigília, através da revelação, pela experiência direta, pela experiência de outros e através dos reciocínio lógico.


O PODER DE MAYA

O encantamento mundano, Maya, pelo qual este mundo entra em existência, é chamado o não-manifestado, o Poder do supremo Senhor, a Ignorância sem começo, formada pelas três potências. O entendimento desperto deve apreendê-la pelo estudo de seus efeitos.
Maya não é o ser nem o não-ser, nem ambos em essência. Ela não é nem dividida nem não-dividida, nem ambos em essência; ela não tem membros, nem é destituída deles, nem ambos em essência; ela é maravilhosa em sua essência, é indefinível.
O poder de Maya deve ser destruído pelo despertar do Eterno, puro e indivisível, como se anula a ilusão da serpente pelo reconhecimento da corda. A paixão, a Obscuridade e a Bondade são conhecidas como suas potências; que devem ser compreendidas pelos seus efeitos.
A dispersão, que é a essência da ação, é poder da paixão. Desse poder se origina a antiquíssima tendência para a ação impulsiva e dele resultam perpetuamente o desejo e o ódio, que são a causa dos estados mentais de dor e tristeza.
A luxúria, a avidez, a mentira, a chicana, o egoísmo, a inveja, o desejo de posse, são as terríveis características da Paixão, da qual se origina a humana atividade; a Paixão é, portanto, causa de escravidão.
Envolvimento é o nome do poder da Obscuridade, pela qual uma coisa parece diferente do que é. Esta é a causa subjacente aos ciclos humanos de nascimento e renascimento. Ele é a força motriz da atividade do poder de Dispersão.  

Ainda que seja inteligente, culto, hábil, penetrante no estudo de si mesmo, plenamente bem informado, um homem não poderá ser sábio se estiver envolvido neste poder da Obscuridade. Pois ele vê como real aquilo que foi forjado pela ilusão e se apóia em qualidades criadas pela ilusão. Infeliz dele! Porque extremamente dominador é este poder da Obscuridade, esse poderoso Envolvimento.
A incapacidade de perceber as coisas reais, vendo-as ao contrário do que são, construindo fantasias, tomando realidades por fantasia, tudo isso são modos de Dispersão. O poder de Dispersão não liberta aquele que se acha sob o jugo do apego, mas o arrasta continuamente.
As características da Obscuridade são a ignorância, a preguiça, a inércia, a letargia, a insensatez, o escravizamento à ilusão; aquele que lhe está subjugado é ignorante em tudo, como se fosse um tronco de árvore, adormecido. A Bondade, por sua pureza, constrói a salvação, ainda quando mesclada com as características negativas assim mencionadas; o raio do Eu verdadeiro, refletido na Bondade, ilumina, como o sol, todo o mundo material.
Quando a bondade se impregna das outras potências, suas características são: auto-respeito, obediência aos mandamentos e às regras, fé devoção, desejo de libertação, virtudes divinas, completo afastamento do mal.
As qualidades da pura Bondade são: a graça, a experiência do Eu verdadeiro, a suprema quietude do coração, conformidade, alegria, e refúgio no Eu supremo, pelo qual se atinge a essência do ser e a beatitude celeste.


O CORPO CAUSAL

D Não-Manifestado, que é definido pelas três potências, forma-se o corpo causal do Ego. Ele é o campo livre da consciência no estado sem sonho, no qual a atividade dos poderes e do entendimento se fundem num só.
O estado sem sonho é uma forma de consciência, na qual toda a espécie de percepção mental é acalmada e a inteligência se recolhe para o Eu, que é a sua fonte. Nesse estado o Vidente diz; "Nada sei do rumor do mundo". O corpo, os poderes, os ares vitais, a mente, a personalidade, todas as formas, todos os objetos, prazer e dor, o éter e os elementos, todo o mundo até e inclusive o Não-Manifestado, tudo isso é diferente do Eu.
Maya e todas as obras de Maya, começando com Mahat e terminando com o corpo, tudo isso é diferente do Eterno, diferente do Eu, como a miragem no deserto.


O EU SUPREMO

    


  


      






































































































































































































 
  

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